terça-feira, 2 de agosto de 2011

Um Dia no Paraíso (Cap. II Parte 1)

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A TRAGÉDIA

         Naquele dia, após chegar da escola, depois da uma da tarde, Amanda tinha ido tomar um banho e almoçara. Dormiu um pouco a tarde e sonhou com algo que perturbou-lhe muito a mente. Uma briga violenta acontecera no seu sonho e algumas pessoas que estavam de fora, olhando, apontavam para ela, culpando-na.
         Ela levantou-se sobressaltada, foi à cozinha e tomou um copo d'água. Percebeu alguém mexendo na porta, seu coração deu uma leve disparada mas logo se acalmou. Era sua mãe quem estava chegando. A mulher de trinta e poucos anos, olhos castanhos e com o rosto meio cansado, marcado por algumas rugas,  abriu a porta e acolheu-a com um sorriso alegre no rosto. Aquele sorriso lavou-lhe a alma e a fez esquecer momentaneamente do sonho.
         Ficou ainda a observar a mulher que entrara em sua casa e de quem tinha sido gerada: tinha os cabelos negros na altura dos ombros, lisos e brilhosos; depois que tomava banho, sumiam as marcas de cansaço, revelando uma mulher jovem e desmentindo a idade que tinha. Era alta e esbelta, e mantinha a forma mesmo depois de dois filhos.
          A garota correu para sua mãe e, sem dizer palavras, a abraçou. No instante, mais forte e demorado que o normal.
         - Você não devia estar na cama? - Perguntou sua mãe. Ela tirou a cabeça do ombro da mãe, olhou dentro daqueles olhos cor-de-mel, doces e brilhantes, e entendeu, com uma dor no coração, que sua mãe ainda não era capaz de perpassar a barreira que seus olhos negros impunham. Por um breve momento desejou que não tivesse aqueles olhos.
         - Eu não consegui dormir mais - disse, e foi largando lentamente sua mãe.
         Rosa olhou dentro dos olhos da filha e disse:
         - Seus olhos negros nunca me permitirão, ou a qualquer pessoa, olhar em seu interior. - Deu-lhe um beijo na testa e foi para o quarto se trocar.
         Durante o resto da tarde e o início da noite, Amanda não tocou no assunto. Mas ficou imaginando quantas pessoas mais aqueles olhos ainda enganariam, depois que foram capazes de enganar sua própria mãe. Quantos sentimentos eles ainda esconderiam das pessoas?
         No quarto, Amanda olhou-se no espelho e se encarou. Olhou dentro dos próprios olhos e não conseguiu ver as divisões que se vêem nas pessoas de olhos claros como os de sua mãe. Conseguia apenas perceber que havia uma pequena bolinha branca que se perdia na imensa negritude que eram seus olhos.
         Ajudou sua mãe a fazer a janta e se divertiu com suas próprias trapalhadas. Não conseguia acreditar como confundira o açúcar com o sal e salgara o suco, ou como colocara pimenta em pó no lugar de colorau no arroz. Nesse ínterim, seu pai chegou do trabalho e, mesmo cansado como parecia estar, vinha alegre e sorridente. Amanda correu para o pai e o abraçou forte, só que desta vez, foi de alegria por vê-lo.
         Rômulo era um homem esforçado e trabalhador. Apesar do começo difícil, como o de muitas pessoas, família pobre e falta de oportunidades, tinha conseguido tudo que sempre sonhara quando era criança. Formado em Direito com muito suor e trabalho, exercia a profissão e, aos 25 anos, já era um advogado formado e conceituado. Poucos anos depois lhe vieram as maiores alegrias de sua vida. Sua mulher e seus filhos.
         Sempre prometera para si e para seus filhos que ia dar o melhor para eles e se esforçava para que essa promessa nunca falhasse. A maior recompensa estava ali em seus braços e sorrindo para ele. Era o melhor da vida que ele conquistara com tanto esforço.
         Tinha o rosto ainda jovem, pois representava a alegria de fazer o que ele gostava, os cabelos eram negros e lustrosos, os olhos castanho escuro e alegres, um sorriso quinze pras três sempre estava estampado em seu rosto e a barba sempre bem feita. Era alto e tinha o corpo magro que herdara de sua antiga vida de garoto pobre.
         Com a garota no colo, Rômulo foi cumprimentar seu outro tesouro, a esposa que estava na cozinha.
         - Como foi seu dia? - Perguntou Rosa.
         - Bom, minha rosa - disse Rômulo sorrindo. - E eu acho que nem preciso perguntar como foi o seu, não é? - Deu-lhe um beijo na boca, enojando Amanda.
         Com a garota ainda no colo, foi para a sala, se sentou no sofá e foi assistir o jornal na TV. Naquele momento percebeu que algo faltava na casa. Ainda no sofá, gritou para Rosa:
         - Onde está o Beto?
         - Eu não sei, ele não chegou ainda - respondeu Rosa da cozinha.
         - Ele deve ter se atrasado - disse Amanda, agora, sentada ao lado do pai, no sofá.
         Roberto era o irmão mais velho de Amanda. Não tinha o costume de chegar tarde em casa. Aos 17 anos era muito correto em suas atitudes e caminhava para a mesma tranquilidade que seu pai conseguira alcançar. O seu maior aliado era o pai a quem amava e respeitava.
         Assistindo a TV, Rômulo aproveitou o comercial para espiar o que estava passando em outros canais. Durante este momento ele passou por um canal evangélico e o sangue pareceu lhe subir à cabeça.
         - Esses crentes são todos mentirosos! - Bravejou. - Se aproveitam da fé das pessoas para ganhar dinheiro!
         Amanda teve medo do pai. Nunca entendera por que seu pai odiava tanto os evangélicos.
         - Papai porquê o senhor não gosta de crente? - Perguntou a garota inocentemente. - Eles não parecem ser maus.
         - Sua inocência não a permite ver por trás do que eles falam, Cris - respondeu Rômulo. - Mas um dia eu vou poder te falar mais claramente sobre isso. 
         A garota não entendeu o que o pai quis dizer, como em tantas outras vezes. Mas isso não importava agora. Amanda ouviu o barulho do portão se abrindo e teve certeza que era seu irmão que estava chegando. Quando ele abriu a porta, Amanda correu para os seus braços como tinha feito com seu pai e sua mãe. Beto ergueu-a no colo e sentou-se sobre uma poltrona almofadada ao lado do sofá onde seu pai estava.
         O garoto era a imagem da mãe, com exceção do cabelo um pouco mais claro que o dos pais. Mas seus olhos eram castanhos como os da mãe, era alto como os pais, tinha o rosto bem formado, mostrando um garoto ao mesmo tempo jovem e experiente. Às vezes, Amanda se sentia o patinho feio da família por não ser tão parecida quanto todos os outros.
         - Onde estava, filho, porque demorou? - Perguntou seu pai sem mais delongas.
         - É uma longa história, papai, e acho que o senhor não vai querer ouvir - disse Beto querendo parecer  sincero.
         Rômulo analisou o filho e percebeu que ele estava feliz. Seus olhos cor-de-mel como os da mãe, brilhavam. Mas o que poderia ser tão ruim que o filho não queria contar para o pai mesmo estando tão alegre? Uma idéia lhe passou pela cabeça mas logo abandonou-a, seu filho não seria capaz daquilo.
         - Bom, filho, qualquer coisa que o deixe feliz, me deixará também - disse Rômulo finalmente.
         Beto parou um momento como se estivesse pensando no que ia dizer, abaixou a cabeça e pareceu tomar coragem para falar.
         - Não fale ainda - disse seu pai - , espere sua mãe, ela também vai querer ouvir.
         Rosa apareceu na sala vindo da cozinha e seu marido pediu para que se sentasse ao seu lado. Beto tinha uma história para contar.
         O garoto sorriu ao ver sua mãe e começou:
         - Bem, hoje quando eu estava voltando da escola - ele parou, parecia meio constrangido - , eu e... alguns amigos. De todos que estavam ali, só eu percebi quando o Lucas se afastou de nós. Eu percebi que ele parecia um pouco distanciado e fui me afastando para falar com ele. A gente estava se aproximando de uma igreja evangélica quando ele foi diminuindo o passo ainda mais e eu me despedi dos outros e voltei para conversar com ele.
         - Você tá bem Lucas? - Perguntei.
         - É que eu tenho que ficar na igreja - ele me respondeu meio envergonhado.
         - E desde quando você vai para igreja, eu nunca percebi antes - eu disse a ele.
         - É que eu comecei a vir este fim de semana.
         - Pelo jeito você gostou, tem algum problema se eu entrar com você?
         - Não! - E quando ele me disse aquilo, pareceu ficar mais feliz.”
         Beto parou por um momento e tomou fôlego para continuar falando. Percebeu que seu pai abaixara a cabeça e parecia estar temeroso do que viria a seguir.
         - Pai - disse Beto e Rômulo levantou a cabeça -, é isso mesmo que o senhor está pensando. - E o semblante de seu pai pareceu esmorecer. Ele abaixou a cabeça e balançou-a negativamente. - Pai - continuou Beto quase chorando -, eu... eu não sei o que o senhor tem contra os crentes, mas... mas não é nada disso que o senhor pensa! - Beto falava com uma voz de suplício. - Por favor, pai, o senhor tem que entender!
         Rômulo parecia não conseguir acreditar no que tinha escutado, seu filho, a quem tanto presava e apoiava, tinha ido para o lado daqueles...
         - Beto - disse Rômulo depois de pensar e analisar a situação - , nós conversaremos depois.
         E saiu da sala, em direção ao quarto. Rosa rapidamente seguiu o marido, sentia o quanto ele estava chocado. Antes de sair da sala virou para os filhos e disse:
         - Vão jantar, agora!
         - Será que vai ficar tudo bem Beto? - Perguntou Amanda que, quando vira o rosto de seu pai ao falar com Beto, tinha agarrado o irmão com a maior força que pôde e escondeu o rosto em seu peito.
         - Com certeza, Cris, agora vamos jantar - respondeu Beto que parecia não estar nem um pouco a fim de comer.

sábado, 30 de outubro de 2010

Meu Novo Mundo

Portas fechadas,
Janelas trancadas,
Já não tem mais para onde ir.

Fico em minha rede,
Entre quatro paredes,
Meu mundo já não é aqui.

Então aprendi que não quero acordar,
Agora que dormi, não vou nem mais ligar,
Não vou voltar, vou pra outro lugar.


Não volte aqui pra me chamar,
Eu escolhi, não vou voltar,
Não volte aqui pra me iludir,
Eu escolhi e já fugi,
Meu mundo já não é aqui.


Portas abertas,
Janelas abertas,
Se abrem pro mundo daqui.

Olhos fechados, 
Joelhos dobrados,
Ele não vai me invadir.


Então aprendi que não quero acordar,
Agora que dormi, não vou nem mais ligar,
Não vou voltar, vou pra outro lugar.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Você Me Dá o Tom

Aprendi a mudar vendo meu passado,
Desaprendi a errar com você ao meu lado para me ajudar,
Revi os meus conceitos todos por você,
Eu vi a minha vida inteira e entendi não quero nada errado,

Pra que lembrar de tudo que não fiz de bom,
Por que errar, quando qro com você viver,

Você me dá o tom

Não quero para mim o que não seja de você,
Não quero um amor que não me ensine a viver,
Agora aprendi como realmente amar,
Com você a minha vida a cada dia vai mudar.

Então entendi que eu quero você,
Agora aprendi com quem realmente quero viver,
Com você o meu futuro será diferente,
Meu passado era triste a gora eu vou viver contente...